com a palavra, o cientista

Setembro 25, 2011 § 6 comentários

Como disse, tenho o grande prazer de iniciar esta primavera como colunista da Revista Quanta.

Transcrevo a seguir a íntegra do texto publicado e ao final há uma reprodução do original como saiu na revista (clique na imagem para vê-la em tamanho maior).

Foi um grande desafio tentar discutir uma ideia no espaço da coluna e ainda vou precisar de mais algumas edições pra pegar melhor o jeitão do texto. Até lá – e sempre – conto com os comentários, sugestões e até puxões de orelha de vocês!

Com a palavra, o cientista – histórias da ciência narradas por seus protagonistas

A criação das primeiras revistas científicas nos idos dos anos 1660 – a inglesa Philosophical Transactions of the Royal Society e a francesa Journal des savants – substituiu a tradição oral da comunicação da ciência pelo registro escrito. Não eliminou, porém, a estrutura de contação de histórias para cientistas e outros leitores interessados sobre os últimos achados científicos. Esta mudança ocorreu no final do século 19, com a profissionalização da atividade científica.

Artigos revisados por pares segue sendo a principal forma de comunicação da ciência por cientistas. O que se deixou de lado foi parte do público-alvo original. Não seria bom se o cientista voltasse a contar suas histórias para todos os interessados? É o que defende um documento da American Academy of Arts and Sciences (AAAS).

A publicação da AAAS constatou que a postura do cientista tem sido de reforçar o coro que clama pela necessidade de letramento científico da população. O ponto de partida foi a observação de uma pesquisa de percepção pública de ciência de que a população tem uma visão positiva sobre a comunidade científica, mas esta tende a considerar o público ignorante e a mídia irresponsável.

Como a premissa que orienta as ações de políticas públicas vem sendo a do analfabetismo científico, estas têm se centrado no ensino da ciência na escola básica e na divulgação desta pela grande mídia. Ao se dirigir também aos cientistas, a pesquisa identificou outra frente de trabalho. O documento da AAAS, então, orienta o cientista para um papel mais ativo nesse processo, alertando-o sobre a importância de se reaproximar da população.

Tal postura encontra eco em outros chamados. Um exemplo é o editorial da britânica Nature instigando os cientistas a usarem blogs como ferramenta para divulgação de seu trabalho e interação com o público leigo .

Esta tarefa que se propõe ao cientista não é excludente da mais ampla. Sobretudo nos países em que a necessidade de alfabetização científica (e geral) ainda é premente. O que se defende é uma mudança de postura do cientista: mais que esperar por uma população letrada capaz de apoiar a ciência, tornar-se um narrador de si mesmo, contando o que faz.

Na final disto esta a possibilidade de ampliar a confiança e a parceria entre dois grupos interdependentes. Não lhe parece que o uso da cátedra de professor-doutor também como cadeira de contador de histórias traz, de fato, a ciência para o cotidiano de todos?

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§ 6 Responses to com a palavra, o cientista

  • Parabéns, Tati.

    Agora achou uma coisa pra fazer entre a meia-noite às seis : )

    []s,

    Roberto Takata

  • Sibele diz:

    Parabéns pelo seu primeiro texto como colunista da Quanta, Tati!

    E com uma temática muito, muito pertinente! De fato, acredito que o resultado mostrado na pesquisa da AAAS (“percepção pública de ciência de que a população tem uma visão positiva sobre a comunidade científica, mas esta tende a considerar o público ignorante e a mídia irresponsável”) pode representar nosso contexto nacional, também.

    Essa “tendência” da comunidade científica, a longo prazo, só afasta o público da ciência, reforçando sua imagem de “torre de marfim”, desligada dos anseios da sociedade de que faz parte e a quem, por ser por ela financiada, deve sim, retorno.

    O relator dessa pesquisa, Chris Mooney, tem um livro (em co-autoria com Sheryl Kirshenbaum) cujo título é bem revelador das consequências de tal alheamento da comunidade científica:

    Unscientific America: how scientific illiteracy threatens our future, infelizmente ainda sem tradução para o português.

    O surgimento de veículos de divulgação científica como a revista Quanta junta-se ao esforço geral de reverter ou pelo menos minimizar esse contexto e essa ameaça.

    Muito sucesso a todos vocês!

    • trnahas diz:

      Oi, Si!
      Obrigada pelo comentário tão gentil!
      De fato, a torre de marfim ainda esta de pé em muitos lados, mas aos poucos ótimos pesquisadores vêm se envolvendo com uma divulgação científica também de qualidade. Aos poucos vai se montando também uma estrutura que facilite isso, como fontes de financiamento via MCT, mudança (ainda que pequena) na estrutura do CV Lattes,iniciativas de algumas universidades e instituições de pesquisa. Isso além das iniciativas individuais de alguns pesquisadores com seus blogs e cia. Ótimos e necessários reforços para os bons trabalhos mais sistemáticos e de longa data de instituições como o Museu da Vida.
      Beijão!

  • ketty diz:

    Lots of great information and inspiration, both of which we all need!

  • Parabéns Tati,
    mais um ótimo texto e agora ampliando o alcance.

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