COVID-19: há tanto que ainda não sabemos…

Abril 27, 2020 § 1 Comentário

Quem já foi infectado pelo novo coronavírus fica imune? É um vírus respiratório mas… como afeta também outros sistemas, por exemplo o nervoso e o digestório? Quando e se chegarmos a uma vacina, ela poderá abranger as diversas mutações do vírus que já conhecemos? E fala-se na testagem como uma via importante para a futura saída do isolamento social, mas os testes que temos já desenvolvidos serão eficazes para isso?

O questionário poderia se alongar muito. Enquanto o SARS-CoV-2 se alastra mais e mais, as pesquisas científicas também seguem em ritmo frenético, permitindo que muito já tenhamos aprendido ao longo da pandemia, o que garantiu mudanças nas orientações da Organização Mundial de Saúde para seu combate. Contudo, há bastante ainda por descobrirmos. É um pouco sobre isso que a professora Cris Sucupira e eu conversamos (no esquema à distância de tudo hoje em dia e com internet meio vagalume…) com o médico Ricardo Sohbie Diaz, diretor do Laboratório de Retrovirologia da Unifesp. Apesar de toda correria nos atendimentos e pesquisa no meio da pandemia, ele foi de uma simpatia e uma disponibilidade ímpares! Começamos com a intenção de que essa conversa se somasse a outras fontes que estamos oferecendo a nossos alunos e terminamos com um documento que é importante de ser divulgado mais amplamente. Então segue aí no fim do post, espero que gostem!

Um dos pontos que mais me chamou a atenção na fala dele foi a parte em que ressaltou que, para entendermos os efeitos do vírus, precisamos olhar não só para as características do vírus, mas também para as características dos pacientes (ele explica isso de um jeito mais bacana). Parece óbvio, né? Mas não é tão óbvio assim, dado o desconhecimento sobre a extensão das variabilidades genética e ambiental que são mais relevantes para a susceptibilidade à COVID-19. Também não parece óbvio se pensarmos no tanto de soluções apressadas que muitos ficam tentando arrancar dos médicos e dos cientistas, por exemplo querendo já dar o medicamento “x” antes de ter sido testado adequadamente (aliás, sobre isso, recomendo adicionalmente o episódio #7 do podcast Luz no fim da quarentena, como biólogo Fernando Reinach: a ciência virou BBB). Sobre a importância de olhar para o que ocorre nos pacientes – sempre, mas especificamente agora nesta pandemia -, recomendo muito este texto do maravilhoso Siddhartha Mukherjee: Como o coronavírus se comporta dentro de um paciente?

E numa tentativa de organizar o que sabemos, ainda que com algumas lacunas, montei uma sequência de 25 perguntas e respostas sobre esta pandemia (ainda em construção).

Aqui há outra conversa com o Ricardo Diaz em que são explorados esses e alguns outros temas relacionados à COVID19.

a pandemia nossa de cada dia

Abril 10, 2020 § Deixe um comentário

Imagem símbolo do SARSCov2 elaborada por Alissa Eckert do Centro de Controle e Prevenção de Doenças

Papa Francisco rezando sozinho no Vaticano em março de 2020 (foto de Yara Nardi)

As duas imagens acima são uma espécie de síntese da pandemia que estamos vivendo. A ilustração do vírus SARSCov2 foi elaborada seguindo critérios técnicos e com objetivo de criar uma identidade na comunicação sobre a COVID-19 pela agência americana CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças). Os registros do papa rezando sozinho na imensa praça vazia no Vaticano são históricos por não haver precedente semelhante.

Como ser humano que está sentindo na pele o que é passar por um momento assim, desses que parecem cenas saídas de um filme de ficção científica ou, na melhor das hipóteses, de um livro de História, estou tão perplexa e angustiada como qualquer um. Como brasileira, estou furiosa por acompanhar dia após dia ações absurdas por parte daqueles que deveriam organizar uma força-tarefa adequada para enfrentar com seriedade essa situação. Como bióloga, estou maravilhada por poder mergulhar ao vivo e a cores no processo de construção do conhecimento científico que tento explicar para meus alunos. Como divulgadora científica, estou feliz em tirar a poeira deste blog e muito mais feliz em acompanhar a maravilhosa escalada do trabalho incrível de quem admiro desde os tempos iniciais do Science Blogs Brasil (que um dia foi Lablogatórios e agora integra o Blogs de ciência da Unicamp), o Atila Iamarino.

Como professora, sinto-me um pouco atolada e exausta por tentar equilibrar a mudança para um ensino remoto emergencial com o estudo em paralelo para entender mais a fundo o modus operandi deste vírus e as medidas sanitárias adequadas. E, como balanço disso tudo, fazer aquilo que é parte inerente ao ofício do professor: chegar a uma boa síntese, encontrar os melhores objetos de referência após conferir sua correção conceitual e atualidade, escolher boas analogias que facilitem as compreensão de fenômenos complexos e/ou abstratos, usar as dúvidas dos alunos como ponto de partida para algumas explicações e tentar contemplar uma diversidade de mídias, mesclando textos, vídeos, podcasts… Embora esse trabalho de curadoria seja exatamente o que faço cotidianamente, é novidade fazer isso no curso de algo que ainda não conhecemos tão bem e que, por isso mesmo, gera uma avalanche de publicações difícil de acompanhar e também que nos faz alternar momentos de produtividade com momentos de melancolia. Por isso, os posts a seguir já mudaram MUITAS vezes antes da publicação inicial. Talvez mudem mais…

UM APANHADÃO GERAL – escolha sua mídia favorita para ter algumas informações de forma mais resumida sobre a pandemia nossa de cada dia:

 

as fases da pesquisa clínica

Dezembro 16, 2013 § Deixe um comentário

Já viu o podcast do CiênciaPop sobre testes em animais? A primeira parte já está no ar e a segunda também deve estar disponível no final da semana (atualização em 20/12/2013). Como contei anteriormente durante a preparação para a gravação, assunto é o que não falta relacionado a este tema polêmico. Foi um prazer conversar com o também biólogo Rafael Bento Soares, autor do blog RNAm entre outras empreitadas, e com a equipe do #SciCast. Espero que vocês também curtam o papo descontraído!

Aproveitando o ensejo, deixo abaixo um esquema que vi em artigo da última edição da revista Química Nova, uma publicação da Sociedade Brasileira de Química. É um bom resumo sobre a estrutura atual da pesquisa: estudos in vitro e estudos in vivo nas fases pré-clínica e clínica como um contínuo, não como possibilidades excludentes. Acho que resume bem uma parte do que foi comentado no podcast (clique na imagem para vê-la em tamanho maior e no link acima para acessar o pdf do artigo completo). Na mesma edição, há ainda um artigo que versa sobre os desafios da indústria farmacêutica brasileira – me parece um bom ponto de partida para a reflexão.

Atualização em 20/12/2013: a Fiocruz lançou um especial sobre experimentação animal que está bem bacana, vale conferir!

etapas da pesquisa

Mais posts sobre o tema aqui no Ciência na Mídia:

duas lógicas

Novembro 20, 2013 § 5 comentários

Escrevi o último post imediatamente após a invasão do Instituto Royal. Passado algum tempo (suficiente até mesmo para nova invasão do mesmo instituto de pesquisa…), queria escrever outro post sobre o tema. Um que fosse mais completo e mais reflexivo. Um que refletisse um pouco do que venho pensando em apresentar como contribuição ao debate no próximo SciCast que logo estará “no ar”. Mas aí caí naquilo que o Luiz Bento bem identificou com um dos problemas do blogueiros de ciências e quase escrevi uma tese. Pior: nem tese escrevi, porque ainda estou no estágio de anotações sobre.

Resumo da ópera: o troço não vai virar post porque não tive tempo de ser breve. Mas para não incorrer novamente no erro do silêncio virtual, uma alternativa intermediária: segue o rascunho que produzi sobre o tema tentando refletir sobre duas lógicas. A quem interessar possa.

o uso de animais na pesquisa científica

Outubro 19, 2013 § 13 comentários

Vira e mexe o tema vem à tona, geralmente por conta de alguma invasão de ativistas a laboratórios de pesquisa ou algo do tipo. Foi assim, por exemplo, em 2005. Está sendo assim desde este evento ocorrido ontem. De diferença significativa entre estes dois eventos está o boom das mídias sociais. Achismos sempre houve, mas até então mais restritos a papos em algumas mesas de bar. Agora estão espalhados pra todo lado via Twitter ou Facebook, e temas como este são verdadeiros rastilhos de pólvora. Pena que rastilho para achismos – superficialidades (pra dizer o mínimo) como Famosos comentaram nas redes sociais o ato de ativistas que invadiram o laboratório do instituto Royal – e não para um debate sério e aprofundado sobre o tema. Pena que não para levantar informação de fato que possa fundamentar esse debate.

É óbvio que maus tratos devem ser proibidos e punidos. Também não dá para negar que foi graças a alguns movimentos sociais (bem antes da era das petições online, em que não se gasta “nem 3 minutinhos, gente!”) que esta mentalidade se tornou vigente, garantindo que o uso de animais em pesquisa científica seja regulamentado, controlado e restrito a determinadas situações (aqui um resuminho de como é a mais atual regulamentação no Brasil). Mas aplicar e defender isso é bem diferente de defender acabar com o uso de animais em pesquisa. Se você não enxerga essa diferença, deveria ler os links abaixo (o que, inevitavelmente, vai levar um pouco mais que três minutinhos). Agora, se você é do tipo que pensa que seria muito melhor trocar a pesquisa em animais como coelhos e gatos por pesquisa em presidiários, não tenho nada a lhe dizer (e menos ainda quero escutar algo de você; já bastam absurdos como este que li nas redes sociais).

Where Am I?

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